Meu interesse pela cura começou pelo estudo caseiro de princípios da Medicina Chinesa seguido pela minha iniciação no Reiki, há mais de 12 anos, acho, por um mestre italiano que estava vivendo no Brasil em um estilo meio easy-rider. O cara era muito gente boa. Descobri durante a minha iniciação que ele falava com seres extra-terrestres e já tinha sido abduzido algumas vezes… rs
Bom, ele não foi o primeiro abduzido que conheci (nem o último!), e isso não me impediu de voltar, 1 ou 2 anos depois, para fazer o nível II. Ele era da escola do Reiki Tradicional Usui – Usui Shiki Ryoho – que é a base de quase tudo o que se conhece de Reiki no Ocidente.
Depois de um tempo, Reiki virou um tipo de Gillete das terapias energéticas: as pessoas criam novas modalidades para serem diferentes (eu sinceramente questiono este mundo de canalizações) e tascam um Reiki-alguma-coisa como marca. Cheguei a tentar a iniciação no Karuna Reiki por indicação de uma amiga e a existência de uma antiga conexão devocional da minha esposa com Kuan Yin (teoricamente, mentora desta técnica), mas saímos antes da conclusão do encontro daquele fim de semana – na verdade, ela saiu, furiosa com tudo, e eu fui atrás… rs
De fato, parecia tudo uma grande insanidade e um uso para lá de inapropriado de nomes e princípios que deveriam ser tratados com mais respeito, sem contar que as pessoas assumem vozes suaves para personificar uma serenidade e altruísmo que, vamos combinar, não existe – o fato de trabalhar com publicidade de torna muito desconfiado com este tipo de coisa.
Fiz uma reciclagem do Usui Shiki Ryoho quando decidi trabalhar como voluntário no ambulatório social de uma ONG. O novo mestre nunca fora abduzido (isso faz diferença…rs) e levava algumas coisa de forma mais formal que o primeiro. Fiquei um ano ou um pouco mais nesta ONG, atendendo todas as manhãs de sábado. As pessoas pareciam satisfeitas com o meu trabalho. Muitas escolhiam ser atendidas especificamente por mim, mas achava tudo meio frustrante e mecânico. A orientação básica era realmente para repetir a mesma seqüência sempre, pois “a energia é inteligente e faz o que deve ser feito”, bastava seguir o protocolo.
Abandonei o trabalho voluntário e o Reiki. Tempos depois, redescobri a Cura Prânica e me encontrei no método. Recentemente tenho lido sobre um suposto resgate dos ensinamentos originais do Mikao Usui e o tema tem me interessado. Estão dividindo as escolas, basicamente, em Ocidental e Oriental, sendo a Oriental – Usui Reiki Ryoho Gakkai - responsável pela reintrodução da sensibilidade e adequação no tratamento – opinião minha, sem maiores aprofundamentos, ainda.
Onde este interesse vai me levar eu relato depois, quando descobrir alguma coisa. O texto a seguir é de Frank Arjava Petter em uma tradução lusitana que encontrei na rede. Ele, há um bom tempo, tem se destacado como um pesquisador sério das origens do Reiki. Tenho daquela época o Reiki Fire, que eu acho que já se encontra disponível em português.
Gokai é o nome japonês para os “5 princípios” (do Reiki). Sansho significa “entoado 3 vezes” (este poder de síntese me assusta). A recomendação é meditar no Gokai pela manhã e à noite. Eles são válidos para todos. Muitas pessoas atribuem sua autoria ao Sensei Mikao Usui, mas sabe-se que ele apenas fez uma adaptação a partir dos 125 poemas deixados pelo Imperador Meiji(1852-1912).
Descobri uma página que disponibiliza o áudio do Gokai Sansho em japonês. Para ouvir, basta seguir o link.
Segue o texto:

Desta vez, gostaria de vos falar sobre os Princípios do Reiki. Em tempos, foram o aspecto mais importante da prática do Reiki no Japão e são ainda vistos, hoje em dia, como a peça principal do Reiki na tradição Japonesa. No início da minha prática de Reiki, desvalorizava-os bastante, mas agora, penso neles diariamente. E espero que tu também faças o mesmo.
As palavras de Usui sobre os Princípios
Na entrevista que Usui deu aos seus alunos, juntamente com o material dos seus ensinamentos, ele disse que, primeiro, temos de curar o aspecto mente/espírito antes de o corpo poder ser curado com sucesso. Dizia isso, porque descobriu que os seus clientes regressavam, depois de terem sido curados, com o mesmo problema, ou similar.
Para resolver este problema, surgiram os Princípios do Reiki. Na cultura Japonesa era e ainda é comum ter uma base ética para uma tradição espiritual. Nas artes marciais e outras artes tradicionais do Japão são dados ao aluno tópicos, para que ele possa levar uma vida de felicidade. E era isto que o Sensei Usui pensava do Reiki. Ele chamava-lhe “A arte secreta de convidar a felicidade – o medicamento espiritual para todas as doenças” (do corpo, mente e espírito).
Obstáculos no Caminho
Mas há obstáculos no caminho para a felicidade e que surgem quando tentamos atingir o nosso objectivo. Nas palavras do Sensei Usui, uma pessoa que é transformada pelo Reiki é uma pessoa cuja mente se tornou como “Buddha”. Tu e eu sabemos que ainda estamos longe disso, mesmo apesar de termos experienciado um ou outro vislumbre do divino pela graça de deus. Há sempre trabalho a fazer…
Os Princípios do Reiki ajudam-nos a abrir cada vez mais, em amor e compaixão. Ajudam-nos a largar a prisão da mente pequena – o ego, individualidade ou personalidade: uma grande tarefa!
A orientação de Chiyoko Yamaguchi
A minha professora, Chiyoko Yamaguchi disse-me, uma vez, o que pensava dos Princípios do Reiki: ela disse que devemos incorporá-los na nossa vida, que devemos respirá-los, vivê-los, incorporá-los com todo o nosso coração. Ela disse que os primeiros quatro são para o teu próprio trabalho interior. O último, disse ela, é o mais importante de todos. E brota em nós, quando os quatro primeiros são integrados.
Um dia, em 1999, compreendi que os princípios têm um carácter mântrico, quando são pronunciados em Japonês. O Sensei Usui sugeriu que os disséssemos uma ou duas vezes por dia e que sentíssemos o seu significado no nosso coração enquanto os dizemos. Quando traduzidos, para Inglês ou para qualquer outra língua, perdem o seu poder. Um Mantra é uma palavra ou uma frase imbuída de um princípio espiritual. É uma palavra ou frase que tem uma alma e esta alma toca a alma da pessoa que os recita. Quando a alma é tocada, a cura verdadeira pode acontecer …
Sei que já leste ou praticaste os Princípios do Reiki em Japonês, mas quero convidar-te a fazê-lo todos os dias, para o fazeres agora… enquanto lês estas linhas.
Os Cinco Princípios do Reiki (em Japonês Gokai Sansho)
Kyo dake wa - Só por hoje
Ikaru na - Não se zangue
Shinpai suna - Não se preocupe
Kansha shite - Expresse sua gratidão
Goo o hage me - Seja aplicado em seu trabalho
Hito ni shinsetsu ni - Seja gentil com os outros

A tradução destes Cinco Princípios é muito clara e simples. A primeira frase Kyo dake wa significa “só por hoje” ou “só hoje”.
O meu professor espiritual Osho costumava dizer “amanhã nunca chega” e é assim que kyo dake wa é para ser compreendido. Significa, fica no Agora, fica aqui e larga todos os sonhos do futuro e as memórias do passado. Fica aqui e entras naquilo que o Sensei Usui procurou no Monte Kurama; entras no Anjin Ryumei, um estado interior de contentamento, aconteça o que acontecer fora e dentro de ti … agora … Kyo dake wa.
Ikaru Na
O primeiro princípio Ikaru Na significa “não te zangues”. Isto não quer dizer que nunca mais te zangues. Às vezes, a zanga é a única reacção apropriada. Pode ser boa para ti e pode realmente ser boa para a pessoa a quem a zanga é direccionada. Às vezes, o outro precisa de ser abanado para sair da sua inconsciência. Às vezes, é bom para ti veres que ainda és tão humano e neurótico como sempre foste; assim, não faças um mau julgamento do teu estado de espírito – mesmo que isso possa doer. A palavra ikaru tem um carácter explosivo.
Porém, não permaneças nesse estado de explosividade. Uma outra face da zanga é que ela pode ser tristeza disfarçada. Então, em vez de tentares gerir a zanga, observa a tristeza no teu coração. Toma conhecimento dela, encara-a e sente-a. Chora pelas perdas que tiveste, chora pelos teus seres amados que perdeste sem tentar fazer desaparecer a dor. E verás que a zanga desaparece sozinha …
Shinpai Suna
A preocupação é uma das substâncias mais tóxicas para o corpo, mente e alma, juntamente com o medo e a culpa. Muitas vezes, actuam como irmãos e aparecem juntos, tornando a tua vida difícil. Mas tu não estás à mercê da preocupação. Se tu entenderes que a não preocupação é pessoal, entendes que é uma doença colectiva (Nota da Tradutora: em Inglês, Frank escreve “doença” desta maneira: dis-ease – “tornar as coisas mais difíceis”). Se uma preocupação não é “tua”, talvez numa próxima vez que ela venha ter contigo, possas vê-la de fora. Olha para ela como se ela não fizesse parte da ti, pessoalmente, e vais ver, de repente, que tens uma opção: ou energizas a preocupação com a tua participação activa ou não. Se não participares nela, vê-la e deixa-la ir. Ela acabará por ficar sem combustível e depois de continuar durante um momento, chegará a parar completamente. E se não houver uma bomba de gasolina por perto, a preocupação morre de fome – até que a próxima preocupação venha ter contigo. A mesma dinâmica se aplica ao pensamento. Observa-o e ele acabará por ir embora…
Não te preocupares não vai necessariamente afastar os teus desafios, mas serás capaz de lidar com eles, de forma mais eficaz – com menos sofrimento e mais alegria. E talvez a vida possa ser divertida! Ops!!
Kansha Shite
Este é o meu favorito: “sê grato”. Repara que nos é pedido que sejamos gratos por nada em especial. A nossa gratidão não deve ter nenhum atributo ligado a ela. Simplesmente, sê grato por tudo o que a vida te dá. Convido-te a fazer isto agora. Sente a gratidão. Sê grato … sente-a no teu peito. Deixa-a tombar sobre ti como néctar do paraíso…Sê gratidão e o teu coração vai transbordar de uma doçura que te vai impregnar a ti e tudo o que está à tua volta.
Goo o hage me
Esta frase pode ser traduzida como “trabalha muito” ou “faz os teus deveres”. Para sermos capazes de entender isto correctamente, será de grande ajuda conhecermos o background cultural da sociedade Japonesa. A sociedade Japonesa está estruturada num sistema altamente hierárquico. Na hierarquia, os empregos são distribuídos dependendo do estatuto social do indivíduo. A sociedade assim é tipicamente asiática: é colectiva, mais do que individual. Para que o grupo sobreviva, o indivíduo pode sacrificar-se, sem vacilar. Então, numa sociedade assim, uma pessoa faz o seu trabalho, o seu dever sem se queixar disso. É uma coisa que vem com o papel social e o papel és tu, tu és o dever… Tal como aparece no anúncio da Nike “Just do it”. Provavelmente, sair-nos-íamos muito melhor muitas das vezes se seguíssemos esta regra, aparentemente simples. É só pôr o lixo lá fora…
Hito Ni Shinsetsu Ni
A Senhora Yamaguchi chamava ao último Princípio, o culminar do teu trabalho interior. Uma vez integrados na tua vida os quatro primeiros, nada mais há a fazer senão pôr o que aprendeste em acção. Então, Reiki é compaixão, em acção… Nas palavras do Sensei Usui: “Quando encontrares a felicidade (vivendo os Princípios do Reiki), a tua mente torna-se como Buddha e com este espírito, tocas o espírito do outro, transformando-o”.
Texto de Frank Arjava Petter
Tradução: Oficina Natural 2006